sábado, 3 de agosto de 2013

Terceiro livro caído da estante - "Meu Coração de Pedra-Pomes"

         Há anos fala-se tanto em matéria e anti-matéria. E como seria se se falasse de literatura e anti-literatura? Esse conceito de anti-literatura é bastante questionável, já que discussões sobre o que de fato é a literatura ocupam páginas de teses de mestrados e doutorados há vários séculos. Literatura boa ou ruim é uma conversa bastante relativa. Boa aos olhos de quem e ruim aos olhos de quem? Podemos estabelecer padrões para uma avaliação de textos tão díspares? Mesmo se os colocássemos em grupos, poderia julgar que um poeta ou romancista é melhor que o outro? Pode ser a arte algo tão aritmético?
        Foi em tudo isso que pensei ao acabar o novo livro de Juliana Frank, de São Paulo. Depois de "Quenga de Plástico" e "Cabeça de Pimpinela", Juliana estréia na Companhia das Letras com um anti-romance (se é que podemos chamá-lo assim) sobre uma faxineira de nome (ou codinome) Lawanda. A autora cria para si logo na primeira página uma cena de julgamento em que tem de defender a necessidade de seu romance. O júri diz que é um livro inútil e ela replica: "Não é inútil. É apenas um livro desnecessário."
           Ao longo do livro acompanhamos Lawanda e suas peripécias pelo hospital fazendo macumbas e serviços escusos para os pacientes. Ela mora em uma pensão e uma tia que paga o aluguel. O pai largou a mãe e não tem mais contato com ela e a mãe está longe, pois Lawanda e o novo namorado não se dão bem.
         Falou-se uma época na dessacralização da literatura e acho que é exatamente isso que Juliana Frank faz em seu livro. As histórias não precisam necessariamente apresentar grandes lições de moral ou epifanias, podem ser simples e exatamente nessa simplicidade que a história de Frank ganha força. Temos uma empatia instantânea por Lawanda, apesar de sabermos que ela é uma doida de pedra, fascinada por borboletas e por colá-las em suas calcinhas.
Livro curto, 109 páginas, pode ser lido em poucas horas. É um livro estranho e minha opinião ainda está um tanto confusa. Ainda não consigo dizer se gostei ou não. Estou pensando para o lado positivo, mas ainda algumas coisas me incomodaram, mesmo entendendo o propósito do livro. Palavrões demais. Palavrões que às vezes não cabem na cena. Acho que seja um defeito desse livro.
Espero que vocês possam lê-lo, para que possamos conversar sobre ele.
Juliana é uma das grandes expoente dessa nova geração que não tem medo de experimentar.  


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