domingo, 11 de agosto de 2013

Quarto, quinto e sexto livros caídos da estante - "Apupos e Rapapés", "Balés" e "A Fila Sem fim dos Demônios Descontentes"

     Esse ano realizei um sonho de muito tempo. Fui à Flip (Feira Literária Internacional de Paraty).  Essa feira é uma espécie de Meca para todos os autores, livreiros, estudantes de letras e interessados em cultura em geral. Fazia tempo que queria ir, mas nunca me sobravam dinheiro ou tempo. Tive a sorte então de conseguir ir esse ano e me diverti muito. A feira é formada por algumas tendas - estruturas metálicas que lembram um circo, mas que eram bem reforçadas para receberem muitas pessoas - de temas diversos. Dentro das determinadas tendas aconteciam as mesas - reuniões de autores de gêneros semelhantes ou diferentes para que debatessem um tema ou vários. Enfim, uma alta voltagem de cultura por minuto. Tive contato com gente muito interessante do meio, conheci pessoas fantásticas e comprei mais de vinte livros. Experiência sim inesquecível. 
     A primeira mesa falava sobre a literatura debaixo d'água ou da poesia debaixo d'água, algo assim, (na verdade, não me ficou claro porque algo tinha que estar debaixo d'água, mas tudo bem) e foram somente mulheres convidadas. Três poetisas e uma jornalista/professora/também escritora. Os nomes foram Alice Sant'Anna, Ana Martins Marques, Noemi Jaffe e Bruna Beber. 
    A discussão foi bastante interessante e uma das primeiras questões levantadas por Noemi era a densidade da poesia, a maturidade da poesias daquelas três jovens meninas. Ela ficou impressionada com os versos de todas, uma tristeza aguda, uma certa ironia fina sobre as coisas do mundo, escritas por alguéns de tão pouca idade. Em tempo: Alice tem 25 anos, Bruna 29 e Ana 36. 
    Acho que Noemi esperava talvez suas poesias fossem mais claramente românticas em termos de escola literária. talvez ainda não espere que uma mulher escreva sobre suas angústias e seus medos de forma tão clara. Não sei bem o que ela pensava, o que eu sei é que fiquei completamente apaixonado pela poesia das três. 
     O livro de Alice abre com um poema sobre um rabo de baleia que poderia passar pela sala e tirar o eu-lírico daquele marasmo em que se encontrava. Talvez de um relacionamento acabado, talvez de uma sala da casa dos pais, talvez de um sanatório, nada fica claro, mas a beleza está justamente nisso. Ana Martins Marques faz um poema sobre uma fruteira e, de um objeto tão comum, consegue falar sobre a vida. 
     Das três, quem mais me impressionou foi Bruna Beber. Ela leu dois de seus poemas, mas o que mais me impressionou foi "Romance em Doze Linhas", que não está em nenhum dos três livros que caíram agora da minha estante, mas no seu lançamento - "Rua da Padaria", que saiu pela Record e é bem fácil de achar em qualquer livraria. Transcrevo: 

"quanto tempo falta pra gente se ver hoje
quanto tempo falta pra gente se ver logo
quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
quanto tempo falta pra gente não querer se ver
quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que nunca se viu
quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu" 

     Eu estava prestando atenção à mesa, às falas, a tudo que acontecia no palco, mas quando Bruna leu esse poema, com sua voz carioca cheia de chiados e cadências, acho que perdi meu chão. Naquele momento sabia que havia me apaixonado pela sua literatura. E a paixão foi tanta que passei na livraria e comprei todos os seus livros que agora figuram na minha estante, todos autografados. Depois, durante a Flip, ainda conversei mais um pouco com Ana Martins, com Alice, até rapidinho com Noemi, mas não falei nada com Bruna. Estava em uma festa e a vi de longe, fumando com uns amigos do lado de fora da casa, mas não quis conversar. Ela já tinha me dito tudo que eu queria ouvir. A poesia de Bruna é simples, mas certeira. Métricas, rimas podem aparecer, mas não são perseguidas. 

    Ela é uma daquelas artistas que simplesmente tem que ser lidas em sua totalidade. Daquelas que me fazem procurar em sebos, livrarias, casas de amigos, obcecam-me até o fim de sua obra. Entre seus três livros, gostei muito dos "Apupos e Rapapés" que me fizeram ir até o dicionário para saber o que significavam. O primeiro é o mesmo que vaia e o segundo que mesura, o que transforma o título do livro em uma sacada muito boa. 
    Os três primeiros livros de Bruna saíram pela Sete Letras, editora carioca um tanto quanto difícil de ser encontrada aqui por São Paulo, mas não impossível. Procurem por Bruna Beber - Rua da Padaria em suas livrarias favoritas e tenham em sua estante de poesia uma das maiores da novíssima poesia brasileira. Ela ainda vai alçar muito vôos. Assim espero e assim desejo. Boa sorte, Bruna! 

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