quarta-feira, 31 de julho de 2013

Primeiro e Segundo Livros Caídos da Estante - "A Tristeza Extraodinária do Leopardo-das-Neves" e "Do Fundo Do Poço Se Vê a Lua"

     Joca Reiners Terron é, sem sombra de dúvida, uma das vozes mais originais e interessantes da literatura nacional contemporânea. O autor, dono de um esmero linguístico invejável, sabe exatamente como conduzir o leitor pelos meandros de suas intrincadas tramas e como provocar sensações e emoções genuínas. Nada é óbvio, nada é escancarado;  são livros cobertos pela névoa da dúvida até depois da última página.
    À principio, a literatura e o estilo de Terron causam no leitor um estranhamento. Tanto em “Do Fundo do Poço Se Vê a Lua” quanto em “A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves”, a história não é apresentada de chofre. Pelo contrário, como um artista a sua tela, Terron pincela suas personagens pouco a pouco e revela de suas personalidades somente o necessário para cada momento da trama. O período de estranhamento se vai e o leitor percebe o ourives que Terron é, lidando muito bem com a ansiedade provocada pelas cenas, valendo-se de cortes poderosos e certeiros, que, como quase físicos chacoalhões, desnorteiam-nos para bem longe do óbvio. A cena em que William lê o diário de Cleópatra é interrompida para que Terron nos descreva o ambiente ao redor do irmão gêmeo da Diva, o Cairo antigo entremeado ao atual. Há uma distância de quarenta páginas para que ela se conclua, sem que esse fato seja um problema para o entendimento e sim algo que  deixe ainda mais curiosos seus leitores sobre o que mais vai acontecer.
     O autor propõe grandes quebra-cabeças literários, similares aos de Machado de Assis em seu “Dom Casmurro”. Até hoje existem discussões se Capitu era mesmo traidora ou se tudo era fruto da imaginação de Bentinho, ciumento ferrenho. No caso de Terron, a divisão entre “Mundo Animal” e “O Escrivão” fica clara em seu propósito, mas somente bem perto do fim do livro. Ele deixa algumas pistas que podem ser ignoradas por algum leitor desavisado. A transformação de Wilson em Cleópatra é gradual e essencial para a compreensão total da trama. Certamente seríamos levados por outros caminhos se ela não fosse assim. Tal como a “Dom Casmurro”, poderíamos chamá-los de livros herméticos em termos de história – tudo está de fato muito bem encaixado – mas não em matéria de emoções. Os três livros contém histórias densas, que demoram a serem processadas. A história está fechada, o mesmo não se pode dizer das arestas emotivas. 
      A grandiosidade de Terron faz com que ele trate temas um tanto espinhosos sem cair no senso comum ou no ridículo. Um exemplo disso é a delicadeza com que ele fala sobre a transformação de Wilson de menino insatisfeito em Diva do Cairo e também da relação da Senhorita X com a Criatura, que facilmente poderia virar um filme de terror B se estivesse em outras mãos. Os dois livros, cada qual em sua maneira, mas principalmente “A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves”, trazem uma forte influência da literatura gótica, no que tange ao terror e ao mistério. 
       Joca Reiners Terron parece, em diversos momentos, falar de um mundo distante, fantasioso, mas aos poucos percebe-se que ele está falando de lugares bem mais perto do que parecem. Os problemas e dúvidas humanas independem de lugar. A Criatura pode habitar São Paulo ou Londres. Cleópatra pode ser o nome de diversas travestis ou transsexuais que junto com Tábatas, Samantas, Marilyns e outras vivem do sexo pago.  Os leitores se reconhecem facilmente nas personagens ou em situações vividas por elas e isso é bom para qualquer escritor, cria laços fortes com seus leitores. Vê-se isso em Machado, também no português Eça, na brasileira Lygia Fagundes Telles e agora em Joca Reiners Terron. 
      Um autor forte, jovem, com muito ainda o que falar. A imaginação de Terron é prodigiosa e vê o cotidiano com os olhos de um verdadeiro artista, transformando-o em literatura de altíssima qualidade.


Livros cairão das estantes

    Por que estante? Porque é um blog que falará de livros. Por que pedante? Porque todo crítico é pedante, tem de ser, faz parte de seu trabalho. Ele diz o que é bom ou ruim de acordo exclusivamente com o seu gosto. Claro que ele pode reconhecer a qualidade do livro, da capa, do conjunto da obra ou coisa assim, mas ele só vai dizer se gosta ou desgosta se realmente gostar ou desgostar. 
     Tem uma definição que diz que pedante é a característica de quem possui certa cultura ou erudição. Gostei disso. Sinto-me autorizado a ser metido. Já sou em todos os meus outros blogs, o que seria diferente nesse, oras? Enfim. Pretendo falar de todos os livros que leio. TODOS. Claro que não farei isso, mas o meu psicólogo dizia que ter a vontade já é meio caminho andado. Então vamos lá, com força total: farei resenhas, comentários, detonações e elogios de todos os livros que ler. Tentarei. Juro. 
       Hoje montei o blog. Já é uma grande coisa. Vou colocar uma resenha um pouco antiga, mas que ainda vale. (Antiga quero dizer que ela já tem uns dois meses. Esse mundo internético deixa a gente meio sem noção de tempo e do que é antigo mesmo, né?). 
        Falarei de Literatura Brasileira, que é a minha maior paixão. Estrangeira também porque ela é, afinal, todo o resto. Autores novos e clássicos, relançamentos, novidades. 
         Eu vou é parar de fazer promessas, que esse texto está parecendo texto de fim de ano. Não quero que vire isso. Sabe aquele monte de promessas que a gente faz e não cumpre nenhuma. Espero que isso não aconteça aqui! Vou tentar. 
          Boas leituras!